Desmatamento

Entre 2002 e 2008 perderam-se nas Bacias Hidrográficas de Ceara perto de 22.000 hectares de Caatinga por desmatamento. O valor económico dos serviços que já foram perdidos e não vai poder ser fornecidos estima-se em R$ 1.250 milhões anuais nas Bacias do Ceara só.

 

A Caatinga é o bioma principal das Áreas Susceptíveis a Desertificação (ASD) na região Nordeste, a vegetação natural é xerofítica, caducifoliar e aberta, bem adaptada para suportar longos períodos de estiagem. A paisagem é uma combinação de áreas desprovidas de vegetação, corpos d’água e áreas urbanizadas correspondendo a mais de 60% da extensão do bioma. Apesar da severidade das condições ecológicas e dos níveis de antropização, a biodiversidade é elevada nas ASD, nas quais bioma Caatinga contabiliza 318 espécies endêmicas da flora, cerca de 350 espécies de aves e 143 de mamíferos.

As ações nacionais de controle e reversão do desmatamento nos biomas do país resultaram no monitoramento sistemático com imagens de satélite da evolução das perdas de vegetação dos seis bio-mas brasileiros. Em 2002 o desmatamento representava uma perda de 555.542 km2 ou 41,4% da área total. Desde 2002 com o monitoramento realizado pelo SFB/IBAMA estima-se que 36. 576 km2 ou 2,7% da área total da ASD foram desmatados. De acordo com a mesma fonte calcula-se que em 2008 as áreas remanescentes de cobertura dos biomas da ASD alcançavam 748.755 km2 ou 55,9% da extensão total.

A imagem a seguir mostra a dinâmica do desmatamento na região nordeste, estando focalizados os pontos de progresso do desmatamento nas áreas mais ocidentais da região (pontos em vermelho). No Ceará, o desmatamento focaliza-se nas regiões do sul do Estado e o este, não afetando municípios das Bacias Metropolitanas e da Bacia do Acaraú. No plano estadual, o 28% da cobertura dos solos corresponde a Caatinga degradada em diferentes níveis, o menor nível entre os estados do Nordeste; o 48% é Caatinga preservada. O 24% restante corresponde a áreas agrícolas (16%), áreas expostas (6%), corpos de água (3%), e áreas urbanas (<1%).

 

Desmatamento nas Áreas Susceptíveis de Desertificação no nordeste, até 2008

 

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2013

 

Entre 2002 e 2008 perderam-se nas Bacias Hidrográficas de Ceara perto de 22.000 hectares de Caatinga por desmatamento. O desmatamento dificulta a regulação climática das florestas e a sua capacidade de estoque de carbono, merma economias turísticas, madeireiras e extrativas, e acredita-se já eliminou a possível descoberta de um número substancial de princípios ativos para o criação de novos fármacos.  

Um estudo do Banco Mundial sobre o custo do desmatamento da Amazônia Brasileira (MARGULIS, 2003) indica os seguintes impactos socioeconômicos relevantes:

• Valor de Existência: refere-se às estimativas relativas à existência do ecossistema associadas à preservação da mata, ao seu valor ambiental. Por exemplo, os desmatamentos têm consequências sobre a desertificação, sendo que nas regiões de clima mais quente e com pouca precipitação a tendência de desertificação é alta em virtude da desidratação dos solos ocasionada pelo elevado índice de evaporação.

• Estocagem de Carbono: refere-se ao estoque de carbono de florestas. É de difícil quantificação, mas é significativo. Existem indícios ainda não comprovados de que a Caatinga possa ser mais eficiente na absorção de gás carbônico na atmosfera do que as flores-tas tropicais, haja vista, que essas últimas pro-duzem uma quantidade de CO2 mais ou menos equivalente ao que absorvem.

• Serviços de habitat e bioprospecção: refere-se a recursos genéticos e medicinais, isso é à possibilidade de que a biodiversidade da floresta permite a descoberta de fármacos e seus princípios ativos para o avanço da medicina. 

• Valor de uso direto em atividades econômicas declinantes: refere-se ao ecoturismo, ao extrativismo madeireiro, ao extrativismo não-madeireiro.

A valoração unitária dos serviços ambientais das matas (R$ por hectare/ano) apresenta na literatura valores bastante diversos, tipicamente baseados em valorações contingentes onde se identifica a disposição a pagar das pessoas pela preservação de espécies e sítios naturais. De forma generalizada, as valorações contingentes tendem a superestimar o valor que as pessoas pagariam se finalmente tivessem que investir, neste caso para preservar a mata. Groot et al. (2012) dão uma visão geral dos valores dos serviços ecossistêmicos de 10 principais biomas, expressos em unidades monetárias. Foram utilizados valores monetários das florestas em Int. $/ha/ano, sendo o valor dos serviços fornecidos por uma hectare entorno a R$ 900 anuais.

O desmatamento elevado no bioma Caatinga vem gerando processos de desertificação em diversas áreas, alterando diretamente a biota, o microclima e os solos, sendo fundamental o desenvolvimento de técnicas de pesquisa capazes de incorporar informações que identifiquem o estado dos recursos naturais, apontando os seus relacionamentos e alguns caminhos a serem tomados para uma intervenção eficiente com o objetivo de gerar a recuperação e o aproveitamento sustentável das terras nesse ambiente. O valor económico dos serviços que já foram perdidos e não vai poder ser fornecidos estima-se em R$ 1.250 milhões anuais nas Bacias do Ceara só.

 Consultar a tabela de desmatamento da Caatinga, total até 2002, e médio anual entre 2002 e 2008 / 2014